Rota no Canal do Panamá: como está a seca após mais de um ano

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O Canal do Panamá por mais de um século é uma importante rota para o transporte marítimo, conectando os oceanos Atlântico e Pacífico, trazendo eficiência na logística global.

Porém, no último ano o canal tem sido afetado por uma consistente estiagem, reduzindo o volume das águas e restringindo a quantidade de navios que podem passar diariamente.

Neste artigo, entenderemos como a estiagem no Canal do Panamá tem gerado interrupções no transporte marítimo, e assim afetando o comércio internacional.

Uma importante conexão para o comércio global

O Canal do Panamá é uma das maiores obras de engenharia já feitas, com aproximadamente 80 quilômetros de extensão, ligando os oceanos Atlântico e Pacífico.

A história do canal remonta a 1880 sendo iniciado pela França, porém, o projeto foi interrompido e retomado em 1904 pelos Estados Unidos, e foi concluído em 1914.

O canal utiliza eclusas em cada extremidade, para que as embarcações possam ser levantadas até o Lago Gatún. Este lago foi criado artificialmente para evitar que fosse necessário escavar todo o percurso do canal, e está a 26 metros acima do nível do mar.

O canal é um atalho na navegação que possibilita que navios evitem a travessia longa e perigosa do Cabo Horn no sul da América do Sul, encurtando 13.000 quilômetros, reduzindo o tempo de trânsito, custos logísticos e a emissão de gases poluentes.

O canal também permite uma maior integração comercial com os países do Oceano Pacífico com a costa leste dos Estados Unidos e Europa.

Navios de todos as partes do globo transitam pelo Canal do Panamá diariamente, resultando em torno de 13.000 a 14.000 navios por ano. São mais de 180 rotas marítimas, 1.920 portos e 170 países conectados pelo canal.

Navegando pela crise no Canal do Panamá

O Panamá enfrenta anualmente meses de seca que vão de dezembro a maio, porém desde a temporada de chuvas de 2022, notou-se que embora as precipitações fossem boas, ainda não eram excelentes.

Em outubro de 2023, foi registrado o mês mais seco para o período desde que iniciaram os registros, cerca de 41% menos chuva que o usual.

Segundo especialistas, fenômenos como El Niño e as mudanças climáticas são fatores que aumentaram a estiagem, resultando na redução do nível de água dos reservatórios do Canal do Panamá, essenciais para sua operação.

Os reservatórios além de fornecer água para o canal, também serve de abastecimento para cerca de 50% da população do Panamá, tornando ainda mais difícil o gerenciamento do problema.

Tendo em vista o cenário, a Autoridade do Canal do Panamá então limitou o número de embarcações que passavam pelo canal diariamente, para conservar níveis saudáveis de abastecimento e possibilitar a continuidade das operações.

A quantidade diária de embarcações nos últimos meses foi: em outubro 32 embarcações diárias, em novembro 24, em dezembro 22, em janeiro 24, número que será mantido até segunda ordem.

A expectativa é que a chuva chegue em maio, para então voltar ao trânsito regular, que em épocas normais são cerca de 36 embarcações ao dia que atravessam o canal.

O Canal do Panamá possui dois canais em cada extremidade, e no meio é unido pelo Lago Gatún. A água utilizada por ambos os canais não é proveniente dos oceanos, mas sim dos reservatórios do lago, trata-se de água doce, e depende das chuvas para seu abastecimento.

Cada vez que um navio transita por um dos canais, é necessário aproximadamente 200 milhões de galões de água do Lago Gatún para abastecer os sistemas de eclusas. Essa água em grande parte é despejada no mar.

Como a crise hídrica afeta o comércio internacional?

Cerca de 5% do comércio marítimo mundial passa pelo canal, também sendo o ponto de acesso de 40% de todo volume de contêineres dos Estados Unidos.

Estes números representam a importância a nível global que o canal tem para a logística e o comércio internacional.

Por conta das consequências da crise hídrica, companhias marítimas como a Hapag Lloyd, Mediterranean Shipping e Maersk anunciaram taxas extras para cobrir a travessia do canal.

O aumento do frete será, na maioria das situações, repassado ao consumidor final, resultando na inflação. Além disso, há um aumento no tempo de trânsito dos navios, seja pela necessidade de mudanças de rotas para evitar o canal, ou pela espera nas filas.

Adicionalmente, houve uma redução no limite de peso que os navios podem transportar, por conta do canal operar com o calado mais baixo que o habitual, o que gera ainda mais prejuízos financeiros

A busca por alternativas no Canal no Panamá

A Autoridade do Canal do Panamá implementou medidas para melhorar a utilização da água, foi encontrada uma maneira de reutilizar a água nas eclusas, e também estão permitindo a navegação junto de dois navios pequenos para aproveitar o espaço. Além disso, o cronograma de trânsito foi otimizado, a fim de aproveitar ao máximo cada gota.

Também, houve uma proposta da diretoria do canal, que seria represar o rio Índio, e canalizar uma corrente de água até o Lago Gatún. Porém, esta medida demoraria cerca de 6 anos, e além do alto custo, teria consequências ambientais severas.

As companhias marítimas, por sua vez, também têm buscado alternativas. Em janeiro, o armador Maersk anunciou que cargas da Austrália e Nova Zelândia fariam a travessia por meios terrestres.

Países próximos do Panamá estão desenvolvendo alternativas interessantes:

A Colômbia está em fase de desenvolvimento de uma ferrovia para conectar o Oceano Pacífico e o Caribe, o México está já trabalhando no chamado Corredor Interoceânico, que são 300 quilômetros de ferrovias modernizadas que competirá com o canal do Panamá.

Há também o Corredor Bioceânico de Capricórnio, uma rodovia que atravessa Bolívia, Brasil, Argentina, Paraguai e Chile, que está em vias de desenvolvimento.

Há também a possibilidade dos navios desviarem da rota, fazendo a travessia pela América do Sul, porém, muitas vezes o custo e o tempo de trânsito são inviáveis.

A maior parte das possíveis alternativas ainda estão em desenvolvimento, o que resta poucas opções como solução.

Sustentabilidade no transporte marítimo

Situações como a forte estiagem enfrentada pelo Canal do Panamá geram um alerta para a questão da sustentabilidade, já que estes eventos podem se tornar frequentes conforme o avanço das mudanças climáticas.

A indústria do transporte marítimo é responsável por 3% das emissões de gases do efeito estufa.

Países membros da Organização Marítima Internacional, concordaram com o objetivo de atingir zero emissões de gases do efeito estufa até 2050.

A estratégia, porém, é vaga e sem instruções claras, mas serve para apontar à indústria marítima uma direção no qual devem caminhar.

Algumas companhias marítimas estão começando a adotar práticas para um desenvolvimento mais verde. A Maersk recebeu em julho de 2023 o primeiro navio de containers movido a metano, um combustível menos poluente. A Evergreen encomendou 24 navios híbridos.

Outros armadores também já encomendaram navios que utilizam algum tipo de combustível alternativo, como metanol ou gás natural liquefeito.

Embora esses passos sejam pequenos, demonstram um claro movimento da indústria marítima em direção a práticas mais sustentáveis.

As Autoridades do Canal do Panamá anunciaram uma série de medidas sustentáveis que vão até 2050, onde também pretendem zerar as emissões de poluição. Dentre as medidas estão: investimentos em sustentabilidade em sua infraestrutura e equipamentos, como instalações fotovoltaicas e veículos elétricos.

Estes planos apontam para um futuro mais verde, porém há ainda um longo caminho pela frente.

Quanto à situação da estiagem no Canal do Panamá, infelizmente não há nenhuma alternativa de ação imediata que substitua a eficiência que o canal costumava fornecer, há apenas a adoção de medidas que minimizem os impactos. As alternativas como a ferrovia no México e Colômbia, são soluções a longo prazo.

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